A gente precisa se
libertar, mas nem sempre conseguimos expressar o que tudo isso significa. Todos
os sentimentos, misturados, embaralhados, que nos faz perder o rumo da
organização sentimental. A gente que ser sair pelas ruas, sentindo o vento
batendo no rosto, mas como fazer isso, sem a máscara de proteção e o medo desse
vento trazer gotículas minúsculas e terríveis do vírus que fez mais de 7
bilhões de pessoas, dos seis continentes que habitam nosso Planeta Terra?
Libertar – nada mais é que torna-se livre, isso é uma das inúmeras definições
da palavra Libertar. A gente precisa libertar o medo que se instalou em nossa
mente.
Mas o que o medo
faz? Faz a gente ter medo de ser contaminado, faz a gente ter medo de
contaminar. Medo da escassez dos alimentos, na fome das minorias, retenção de
recursos dos mais providos. Medo da quarentena virar uma sessentena, um estender
por um ano. Medo de nunca mais poder abraçar quem gostamos, de viajar praquele
destino tão sonhado.
Me pego pensando em
como anda a Muralha da China, sem aquela multidão de turistas querendo conhecer
sua pequena parte que pode ser visitada; na Torre Eiffel, sem pessoas subindo e
descendo diariamente para tirar uma selfie do ponto mais alto, ou de casais
tirando fotos apaixonados abaixo dela; nas praias caribenhas, desertas e tendo
seus peixes exóticos voltando para ao recifes, após serem expulsos pelo turismo
em massa. Será que as Lhamas que moram no Peru, estão sentindo falta dos
turistas chatos que queriam fotos e mais fotos, com elas todas enfeitadas? As
auroras boreais devem estar mais cheias de cores com a diminuição da poluição,
as geleiras da Argentina, Alasca, Groelândia e Sibéria devem ter diminuído o
ritmo de descongelamento. Até soube que os canais de Veneza estão mais limpos! Que
detox maravilhoso o mundo está passando, para quando voltar – estar mais forte
para encarar o que estiver para vir!
As ruas andam mais
silenciosas e desertas, o que, de fato é bom – muito bom, aliás – dá pra andar
sem pressa, observar tudo ao redor, reparar nas construções antes nem notadas,
nas arvores nunca vistas com afinco. Dá pra atravessar a rua sem medo de ser
atropelada – isso quando, se sai na rua, né? O céu anda mais limpo, grande capitais,
recordistas em poluição e um ar cinzento, hoje desfrutam de tons de azuis, ouso
dizer – nunca visto antes – por muitos.
Nos dias atuais,
não dá pra bater no peito e falar em alto e bom tom, que tem a garantia
constitucional de ir e vir quando quiser. Fronteiras foram fechadas, viagem
canceladas. Nossas casas? Hoje são nossas celas – ou paraíso. Hoje a garantia
constitucional é ter respeito ao próximo, sair somente quando necessário,
encontrar outros meios de entretenimento. Você já parou pra pensar no que essa
revolução toda te afeta? No que ela quer te ensinar? Se você, nesse tempo todo
não cogitou essa pergunta, talvez esteja vivendo numa bolha irreal sobre o qual
é sua missão no mundo. E sobre missão no mundo, cada qual tem a sua – ou acha
que tem, mas sabendo que, a vida não é só nascer, crescer, estudar, trabalhar,
constituir família, envelhecer e morrer – a vida é muito mais do que isso! A
vida é composta pelas pessoas que você conhece e convive ( e o que elas tem
para te ensinar e você a aprender, e vice-versa), os livros que você lê, as
viagens que você faz, os propósitos que você tem!
Quem não gostava da
própria companhia – teve que aprender a gostar. Quem odiava conviver com a família
– teve que aprender a conviver. Quem nunca pensou no próximo – começou (prefiro
acreditar) a pensar. O mundo virou de ponta cabeça, no início de uma nova década,
e muita gente acabou virando junto com ele. Você continua fazendo as mesmas
coisas que não gosta para agradar alguém? Você tem procrastinado seu tempo com
redes sociais e publicações sem conteúdo, quando poderia estar investindo em
você? E quando falo em investimento, não estou falando em moeda monetária –
precisamos ter valor, e não preço. Investir em si, é fazer algo para ter uma
vida mais leve e significativa. É, olhar para si, e amar o que ver – e se não
amar, encontrar uma forma de conquistar o amor próprio. Investir em si mesmo,
nada mais é do que ler assuntos que interessam a si, e não aos outros.
Mas como se
libertar de tantos sentimentos controversos que surge nesse isolamento? É um
isolamento social que te blinda com medo do próximo: não há mais abraços,
beijos, proximidade. Com a chegada do vírus, foi-se a confiança. O toque, que
raramente era feito com sinceridade, hoje não há mais. O sorriso que antes era
visto, hoje uma máscara esconde. Eu sinto falta dos sorrisos, de fazer leitura
labial das pessoas. De ver a gritaria das crianças nas praças – e até as birras
no chão dos supermercados.
O mundo girou uma
chave – que jamais voltará a ser o que era antes. Muito da intimidade que antes
tínhamos, não existirá. Só será próximo, quem realmente tiver um grande
significado em nossas vidas – não arriscaremos por amizades levianas.
O que essa pausa no
mundo nos fez enxergar? Muitas coisas. Eu consigo ver que, a maioria de nós
andava num ritmo tão acelerado, sempre pensando no futuro, fazendo mil
planejamentos, que estávamos esquecendo de viver o hoje. De parar para ler
aquele livro que há tempos estávamos ensaiando para ler, mas sempre com a
desculpa que éramos ocupados demais, para desperdiçar o tempo com leitura. Para
aprender a fazer algo, que nunca pararíamos para fazer (Muitas pessoas
aprenderam a fazer tricô e crochê). Muita gente voltou os olhos para seu
interior, para curar as feridas que estavam sendo tão mortais, quanto esse vírus.
E que eu preciso retomar por aqui.